quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A fuga

Certo dia, Helena desejou nunca ter existido.
Não fazia diferença alguma em toda a galáxia.
Não era boa filha. Muito menos boa neta.
Sempre ouvia
"Você mata um na unha!"
"Eu prefiro trabalhar a ficar nessa casa!"
Não era boa aluna. Muito menos funcionária.
Sempre ouvia
"Qual o problema agora? Você tem que prestar mais atenção!"
Não era boa amiga. Muito menos amante.
Sempre ouvia
"Agora não vai dar. O problema não é você, sou eu."
Mas ela sabia que era o problema, daqueles que nem Einstein resolveria a equação.

Certo dia, Helena desejou nunca ter existido. E teve uma ideia.
"Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, eu fujo."
E fugiu da vida.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Tudo bem

Tudo bem se você quiser partir amanhã e pegar um vôo com destino pra outra alma, outro coração. A gente sabe o quão dificil é meu ser, e quanto o mundo pode ser incrível.

Tudo bem se você não souber lidar com meu ciúme, minha teimosia. Na verdade isso tudo é medo de perder o que tenho a minha volta. Me escondo atrás da marra, do desapego, mas se pudesse abraçar tudo e levar juntinho comigo, eu o faria.

Tudo bem se você preferir escolher outras bocas, outros cheiros, ou ninguém. Vai doer, mas a gente sabe que nessas horas é sempre o danado do coração que sobressai, e com ele não dá pra discutir.

Tudo bem se aquela música que eu fiz, naquela quinta-feira a tarde não te tocou. Um dia quem sabe ela toque alguém, ou talvez não. Vai saber.

A gente nunca sabe se aquele último beijo é uma despedida, ou o primeiro de muitos numa vida. Mas de qualquer forma, é mais um beijo pra contar história. 
Então tudo bem.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O amor e seus disfarces

Certo dia, Sofia jurou encontrar o amor de sua vida.
Planejou um futuro juntos que daria um belo filme.
Mas ninguém contou para a pobre menina que a vida real não é tão boa como nas telas de cinema.
Então Sofia chorou.
Dois dias seguidos.
E na terceira noite, teve uma ideia.
Colheu algumas gotas do mar cristalino e deu cor aos seus olhos negros como a noite.
Agora eram azuis, brilhantes e cheios de luz.
Passou a beber, deixou o cabelo crescer.
E todos os dias ouvia a discografia dos barbudos. No fim do mês, já havia gravado tudo, e podia cantar até de trás pra frente.
Por fim, comprou uma passagem pra Macaé.
"Será que ele fugiria atrás de mim?"
Resolveu arriscar, um final de semana longe não faria tão mal assim.
Mas nada aconteceu.
Então Sofia chorou mais uma vez.
E entendeu que não podia querer ser alguém, porque ela era aquela ali, com olhos negros, cheia de imperfeições, e aquele jeitinho chata-dramatica-manhosa-teimosa-ciumenta.
Se alguém a quisesse amar, teria que carregar a bagagem toda.
12 a.m
Pegou um táxi, deixando os dirfarces e fantasias para trás.
A viagem chegara ao fim.
A partir daquele dia seria apenas ela.
Com todos os seus nós.
Lá fora, quase dava pra ouvir o vento rodopiar.
Mas dentro dela algo pulsava em seu peito, tão forte, que jurou o motorista ter ouvido.
Agora sim, Sofia começara a entender a vida.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Próxima sessão, por favor

Como é que a gente faz para se tornar especial?
Onde é que se compra a fórmula mágica, que nos transforma em alguém importantíssimo para alguém?
Doze em doze horas ou dose unica?
E o resultado é instantâneo?
Um a zero para os efeitos hollywoodianos.
Exibem seus grandes amores em telas gigantes para o mundo todo aplaudir.
BRAVO!
Mas não nos ensinam como agir quando a vida nos tira o folego(quase sempre).
Como sumir do mundo. Evaporar.
Próxima sessão, por favor.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Flores de Outono

Clara sabia que a partir daquele dia algo tinha mudado.
Uma espécie de Primavera no meio do Outono.
Desde que esbarrara com João na saída do metrô, tudo floresceu.

- Por que você não chegou antes? Tipo uns dois anos atrás?
- Você não ia gostar de me conhecer naquela época. Eu era imaturo, bem babaca e quase não tinha barba (risos). Ia acabar estragando tudo.
- Bom, isso é. Mas vamos combinar que babaca você ainda é né? (risos)
- Como você ousar falar assim comigo hein D. Clara?
- (risos) Tudo bem, tudo bem, "você é um amor"... mas posso te pedir uma coisa? ja que você demorou tanto tempo pra aparecer...
- Lá vem, já vai querer se aproveitar de mim.
- Na verdade não.
- Então o que é?
- Fica? Fica comigo, o maior tempo possível, ou pra sempre talvez? É que o mundo é tão cruel quando a gente não tem ninguém pra observar com a gente, e eu gosto tanto quando você me empresta seus olhos..
- Oh Clara, minha Clara... eu seria louco se fosse embora e te deixasse aqui.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Previsão do tempo: coração nublado

Ana já não sabia se o lado bom era maior que o ruim.
Estava confusa.
Queria estar com ele pra sempre, mas ao mesmo tempo via um caminho infinito de obstáculos.
Não tinha certeza se queria ser a Indiana Jones da vida real.
Ana só queria ser feliz.
Era seu único desejo. Ser feliz com quem ela amava. Era pedir muito?
Ana pensou em desistir.
Desistir dela. Desistir dos nós. Desistir de tudo.
Ana era tempestade.
Daquelas com direito à vendaval.
Ana queria ser Sol, Arco íris e todas essas coisas que aquecem e deixam o dia mais bonito.
Ela só não sabia como.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Next Station: Fim da linha

Mais um dia como outro. Você acorda e está atrasado para o trabalho como sempre. Toma um banho rápido, veste a roupa, bebe um copo de leite, pega a mochila e sai em disparada. Anda depressa como se não houvesse o amanhã. No meio do caminho percebe que esqueceu os fones de ouvido. Mas agora não dá mais pra voltar. Pensa em como vai ser triste e estressante a viagem naquele trem matinal cheio, sem uma boa musica pra ouvir. Chega na estação e coincidentemente o trem já é avistado. Se prepara pra enfrentar aquela multidão. O trem para. As portas se abrem. Quase não tem ninguém em pé. Você começa a se questionar se está no lugar certo, no trem certo. Pra onde foram todas as pessoas? Você dá de ombros e para em frente à um casal de velhinhos. Surpreendentemente eles irão descer na próxima estação. Você senta no lugar vago. "Nossa, hoje é meu dia mesmo!" O estresse começa a ir embora, o corpo relaxa. Você até ensaia uns cochilos rápidos. Começa a pensar na reunião que terá mais tarde com o chefe. "Será que dessa vez, aquela promoção tão esperada sai?" Bom, com o dinheiro do novo salário daria pra reformar a casa, comprar um tênis novo pro filho, um celular bom pra mãe e até a blusa nova do timão. Você sorri imaginando em como a vida pode ser boa. Minutos depois...

TREM SENTIDO CENTRAL COLIDE COM OUTRO SENTIDO SANTA CRUZ E DEIXA MAIS DE 200 MORTOS E 100 FERIDOS.

Lá se vão centenas de sonhos, centenas de "eu te amo" não ditos. Centenas de duvidas e certezas que não voltarão mais. Centenas de maridos que não retornarão mais pra casa pra dar um beijo de boa noite em suas esposas. Centenas de reformas, tênis novos para os filhos, celulares para as mães que não acontecerão mais. Sem tempo de um adeus ou despedidas.

"A morte é tranquila, fácil. A vida é mais difícil." - Bella Swan

domingo, 1 de março de 2015

Caminho das Perdas

Tem gente que perde a carona.
Tem gente que perde a direção.
Perde a linha, ou o novelo inteiro.
Tem gente que perde o busão.

Tem gente que perde a carteira.
Tem gente que perde o ar.
Perde o rumo, fica sem eira nem beira.
Tem gente que se perde num bar.

Tem gente que perde a cabeça.
Tem gente que perde a calma.
Perde a fome, o sono, a voz.
Tem gente que perde a alma.

Tem gente que perde a hora.
Tem gente que perde a alegria.
Perde o medo de ficar, ou a coragem de ir embora.
E tem eu, que te perco um pouquinho a cada dia.


sábado, 17 de janeiro de 2015

Prosa com a saudade

Gosto das suas pintinhas. Me divirto com elas. São tantas espalhadas pelo corpo. Um dia ainda hei de contar todas(risos). Gosto também da forma como você procura minha mão, pra gente andar de mãos dadas. Gosto até do seu olhar meio de sono, meio safado. Nunca sei se você quer dormir, ou fazer amor. Seja lá o que for, a gente acaba fazendo amor e dormindo depois. Gosto quando você diz ter saudade, mesmo eu não acreditando muito. Ou quando você me prende na cama, com o abraço mais forte e mais gostoso do mundo, estendendo o dia mais um pouquinho e se atrasando pro trabalho. Só não gosto quando você vai embora. Logo quando você vira as costas e sobe a ladeira, a saudade já começa a apertar, pedindo pra você voltar, pedindo pra você ficar mais um cadinho, pra você não desgrudar de mim. É nessa hora que eu fecho o portão e digo pra ela que não tem nada não, que logo logo você ta de volta pra gente se amar. E haja amor!

domingo, 4 de janeiro de 2015

Cara estranho

Era terça-feira, ainda.
Sofia estava sendo corroída pelo tédio. Então resolveu sair, respirar um ar mais puro. Foi até a sua cafeteria preferida, do tipo "Starbucks" e pediu o de sempre. Pegou seu caderninho de poesias e danou a rascunhar frases soltas, com algum sentido, ou talvez nenhum. O café chegou. Doce, com aquele toque levemente amargo no final do gole. Sofia suspirou. Era uma das coisas que mais amava na vida. O cheiro e o gosto do café. Entre um gole e outro, mais frases rabiscadas. Poderia passar a tarde ali que nem sentiria o tempo passar. Foi quando percebeu alguém lhe observando. Um rapaz. Devia ter uns 22 anos. Meio branco, meio moreno. Amarelado talvez. Uma barba rala ou quem sabe, um projeto de barba. Usava óculos grandes e um blusão quadriculado.Mesmo de blusão, dava pra ver que ele tinha uma tatuagem no braço. Um cara aparentemente normal, mas que naquela tarde, sentado naquela cafeteria, tomando aquele café com aquele olhar, se tornou diferente. Sofia rapidamente abaixou a cabeça e voltou o olhar para seu caderno. Até que o mesmo se levantou e foi até a mesa da moça.
- Boa tarde, posso me sentar?
- Hm, acho que não. Sempre ouvi dizer que não é legal falar com estranhos.
- Mas se você não me deixar sentar, eu nunca vou deixar de ser um estranho.
- Tudo bem, sente logo.
- Vem sempre aqui?
- Quase sempre. Gosto daqui, dá pra relaxar e escrever umas coisas legais.
- Sabia que você tem os olhos mais lindos que já vi?
Sofia tinha olhos negros. Nada de azul ou verde. Mas por algum motivo, ele os achou especiais.
- Érr..obrigada (risos)
- Então você escreve?
- Sim, costumo.
E os dois passaram a tarde ali, conversando e deixando a estranheza de lado.
No dia seguinte, se encontraram novamente, no mesmo lugar.
E repetiram isso por  alguns dias mais.
Não era amor, ainda. Mas poderia ser. Vai saber.