quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Se a saudade falasse...

Já faz um tempo e eu ainda hesito quando ligo pra pedir uma pizza. Não preciso mais pedir metade frango/qualquercoisa sem cebola e azeitona. Mas de fato, você sempre me vem à mente na hora do pedido.
Outro dia, a tia da prima da mãe das formiguinhas da sua casa, que subiam na cama e não me deixavam dormir, me contou que elas sentem falta de atrapalhar nossa conchinha.
E que as paredes da casa não são mais tão verdes.
Hoje elas assumiram um tom de cinza, de saudade talvez.
Que o senhor do bar da frente já não sorri tanto como antes.
Quem é que vai ser tão pontual para ele ter que fazer companhia e preparar um cafézinho, enquanto te espera chegar?
Hoje, os pontos de ônibus, táxis, trens, bares e cinemas da cidade sentem saudade da gente.
Do nosso beijo e daquele abraço que mais parecia um nó.
Mas o show acabou.
O nosso filme saiu de cartaz.
E eu continuei aqui, sentada no cinema, na esperança de uma próxima sessão.
Um horário extra talvez.
Não teve jeito.
E dessa vez ninguém perguntou se podia apagar a luz.
Não teve par ou ímpar ou jokenpo pra decidir quem ia.
Elas simplesmente se apagaram e você se foi.

sábado, 2 de julho de 2016

Surra de saudade

Sempre imaginei que a dor de um tiro fosse uma das piores.
Mas quando a gente cresce,  e começa a viver a vida de verdade, a gente vê que tem coisas que podem doer igualmente ou mais, como a saudade.
No caso de um tiro -se você tiver sorte e ele acertar um órgão vital do seu corpo- você morre instantaneamente ou em poucos minutos.
O sofrimento dura pouco mais que o tempo de um miojo.
Já a saudade não.
A saudade é traiçoeira, te tortura e faz questão de te matar aos pouquinhos.
Ela chega como quem não quer nada, e de repente...
É como aquele soco na boca do estômago que te deixa sem ar.
Te joga no chão, pisa em você e ri na sua cara. Ri não, gargalha, com todos os dentes à mostra.
Esmaga todos os seus ossinhos até você se sentir infinitamente menor.
Saudade é tipo ácido que corrói tudo por dentro.
É a espera na janela de alguém que nunca vai voltar.
É a insônia toda noite antes de dormir.
É o choro que começa no chuveiro e termina embriagando o travesseiro.
É sentir que falta um pedaço pra continuar.
Saudade é o que eu sinto todo dia
desde que você partiu e não deixou
bilhete
recado
sinais de fogo
ou qualquer registro de quando ia voltar.
Se é que algum dia vai voltar.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Utopia do (fazer) amor

[Você pode ler este texto ao som de Nothing's Gonna Hurt You Baby]

Esses dias ouvi uma música e lembrei de você.
Daquelas que a gente perde a noção do tempo de tão gostosa que é.
Decidi ir até a sua casa e te tirar pra dançar.
- Oi, posso passar aí? É que tenho uma coisa pra te mostrar.
Noite de sexta-feira, friozinho convidativo, um vinho pra gelar.
Coloco a música pra tocar, te puxo pra perto num convite a ensaiar uns passos meio tortos no meio da sala.
Você cola o rosto no meu.
Ficamos um bom tempo em silêncio, sentindo a música.
Não resisto ao seu perfume e dou um beijo em seu pescoço. Mais outro. E outro.
Subo lentamente os lábios até a sua orelha na intenção de dizer algo, mas calo.
Apenas uma mordidinha de leve, daquelas que te da um arrepio. E confesso, adoro fazer isso.
Você entende os sinais.
Acaricia lentamente minhas costas por debaixo da blusa e abre meu sutiã.
Num centésimo de segundo, estamos sem nossas blusas. Peito colado.
Meu coração acelera. Inevitável. Espero que não se importe.
E de repente estamos na cama, nus, entrelaçados.
Você me beija com uma espécie de sede, como se pudesse me engolir através daquele beijo. E eu correspondo. E quero mais.
Avança pelo meu pescoço e para em meus seios. Brinca com eles e confesso, já estou cheia de prazer.
Passeia um pouco mais pela minha barriga e por fim, chega aonde queria chegar.
Com uma habilidade quase profissional, você usa sua língua, e faz tudo bem devagar na tentativa de me sentir, sentir meu gosto por mais tempo.
Nessa hora o prazer transborda.
Há uma espécie de explosão aqui dentro.
É tanto sentimento que não cabe em mim que me deságuo em você.
Agora sou eu que estou te sentindo, sentindo seu gosto, seu cheiro.
Sinto cada parte sua.
Devagar.
Mais intenso.
Devagar.
E de repente você está dentro de mim.
E de repente ninguém sabe mais quem é quem. Somos um só. Nos pertencemos.
Beijos. Carícias. Toques. Gemidos.
Mãos. Pernas. Línguas. Ouvidos.
O ar falta...

E de repente um gemido mais alto.
O triunfo do gozo final.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Às vezes a gente só queria..

Às vezes a gente só queria alguém
Pra ir ao teatro e morrer de rir com alguma peça
Ou só morrer de rir de cócegas mesmo.
Alguém pra decorar cada pintinha ou marquinha
E ser apaixonada por todas elas.
Ir ao parque
Andar de mãos dadas
Ser surpreendido por uma chuva
E dançar na chuva mesmo assim.
Alguém pra dormir junto, grudado, de conchinha, quase um só
Sentir o braço formigar
E ficar com pena de mudar de posição já que o aconchego tá tão "bão".
“Vamos pedir pizza?”
“Esse filme é muito bom”
Fazer amor no tapete da sala
Na mesinha, no colchão.
Alguém pra dividir o banho
E ser cobaia das suas invenções culinárias.
Alguém pra viajar
Ou só pra matar o tempo olhando pro teto.
Alguém com um abraço cheiroso
Daqueles que o cheiro impregna na roupa e a gente torce pra não sair mais.
Alguém pra quebrar a rotina com um almoço inesperado
Ou ligar no meio do dia só pra dizer que ta com saudade.
Alguém que curta você, os amigos e os amigos dos amigos.
Alguém pra surpreender com fast foods e umas cervejas num domingo à tarde.
Às vezes a gente só queria alguém pra fazer planos, não cumprir quase nenhum, mas ser feliz mesmo assim.