sábado, 2 de julho de 2016

Surra de saudade

Sempre imaginei que a dor de um tiro fosse uma das piores.
Mas quando a gente cresce,  e começa a viver a vida de verdade, a gente vê que tem coisas que podem doer igualmente ou mais, como a saudade.
No caso de um tiro -se você tiver sorte e ele acertar um órgão vital do seu corpo- você morre instantaneamente ou em poucos minutos.
O sofrimento dura pouco mais que o tempo de um miojo.
Já a saudade não.
A saudade é traiçoeira, te tortura e faz questão de te matar aos pouquinhos.
Ela chega como quem não quer nada, e de repente...
É como aquele soco na boca do estômago que te deixa sem ar.
Te joga no chão, pisa em você e ri na sua cara. Ri não, gargalha, com todos os dentes à mostra.
Esmaga todos os seus ossinhos até você se sentir infinitamente menor.
Saudade é tipo ácido que corrói tudo por dentro.
É a espera na janela de alguém que nunca vai voltar.
É a insônia toda noite antes de dormir.
É o choro que começa no chuveiro e termina embriagando o travesseiro.
É sentir que falta um pedaço pra continuar.
Saudade é o que eu sinto todo dia
desde que você partiu e não deixou
bilhete
recado
sinais de fogo
ou qualquer registro de quando ia voltar.
Se é que algum dia vai voltar.